domingo, outubro 01, 2006

as coisas acontecem....

Al Berto



Horto de Incêndio, de Al Berto, foi publicado em 1997, pela Assírio & Alvim. A sua poesia completa, O Medo, sairia já depois da morte do poeta, a quem A Phala dedicaria, ainda nesse ano, um número especial, de homenagem. No número 54, de Março, Al Berto respondia a cinco perguntas, a propósito de Horto de Incêndio.




HORTO DE INCÊNDIO


1 — Há bastante tempo que não publicavas e no entanto este livro, até pelo título, tem o carácter da urgência. Porquê?

Telegrama 1: Todos os meus livros tiveram sempre um carácter de urgência. Porque ao terminar um livro nunca tive a certeza de que um outro se seguisse. Cada um deles está intrinsecamente ligado a um momento da minha vida. A vida e os livros acontecem … Stop

2 — Há os poemas «inferno», «sida», «febre», «fantasma», «senhor da asma». É um livro triste, trágico, quase apocalíptico?

Telegrama 2: Não podia ser de outra maneira. Veja-se os tempos que correm, tempos de manipulação e de enxertia, tempos de metamorfose maligna e hipocrisia. Já não há cidadãos, mas contribuintes — o que quer dizer que o corpo foi substituído por uma série de algarismos. Stop

3 — A segunda parte, «Morte de Rimbaud» foi dito em voz alta no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Ao escreveres existe alguma vontade de que as tuas palavras sejam para ser ditas em voz alta?
Telegrama 3: Sempre defendi a oralidade. É uma tradição da poesia portuguesa. Não publico poemas sem os ler em voz alta muitas vezes. «Morte de Rimbaud» foi escrito propositadamente para o espectáculo Filhos de Rimbaud e para ser dito em voz alta. Tentei ser claro. Stop

4 — Coloquiais e íntimos, poemas como pequenos segredos ou conversas afectivas. Esta tua poesia parece nascer da necessidade de uma confidência. A poesia é feita para todos?

Telegrama 4: Se calhar porque toda a minha escrita é um diálogo comigo mesmo… Uma viagem em direcção ao silêncio. Não sei… Não. A poesia não é feita para ninguém em especial, mas uma vez publicada é para quem a lê. Talvez este livro seja um livro para ler também em voz alta. Stop

5 — O que é que a tua vida deve à poesia?

Telegrama 5: A poesia tem-me levado ao despojamento daquilo que é lixo e me atrapalha a vida. Cada vez mais me parece que a poesia é a única linguagem capaz de atingir o rosto de um deus e feri-lo mortalmente, nem que fosse por um milésimo de segundo. Stop

1 Comments:

Blogger Nani said...

é de facto indiscritível o q ele desperta no interior de cada um...

4:13 da manhã  

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