domingo, novembro 27, 2005

Era, sou.

Era sintética, rígida, cheia de certezas e ambição. Certa que tudo o que me rodeava precisava de ser abanado. E perguntava. Perguntava o que não se pergunta. Respondia o que não devia. E ria. Sentia o poder em mim. Sentia o poder em si. Era eu comigo. O que queria era obter respostas em mim, sustentar as minhas aparentes certezas. Eram só aparentes. Não questionava nada, nem a mim. Achava que a grande pergunta ficava respondida quando deixava a mesa boqueaberta e instalava a confusão. Gritava.

Fecho agora cada vez mais a boca. Escrevo em blogs. Faço um percurso tão curto quanto o do meu quarto ao escritório e por aí fico. Já pouco grito, já pouco falo, já pouco me manifesto. Finalmente questiono-me de verdade. Questiono as certezas que tinha quando era cheia delas e sem nenhumas. Lamento que para que exercesse o meu poder, tivesse que ser arrogante, e aparentemente confiante. Não sou.

E assim me vou perdendo e encontrando cá dentro. Para fora passo cada vez menos e desejo cada vez mais. A tristeza que me invade quando me vejo a dar ao sistema é corrosiva. Nunca conseguirei conjugar a vontade de mudar com uma pacificidade interior. Sou agora uma pessoa mais calma, mais compreensiva, mas também mais passiva. Inerte. Apática.

No tempo em que revolucionava não me conhecia.
Agora que me vou conhecendo, não tenho força.
O processo ainda não está completo... e quanto mais me conheço mais me perco. Onde está a objectividade de outrora? A vontade? A arrogância foi-se embora, era ela a minha defesa. Mas nessa altura ninguém me detinha.
Pensando bem nunca fiz nada.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Dia (a)normal...

É acordar e estar frio mas tomar um quente e demorado banho...
É já não nos deixarmos incomodar pela chuva...
É de repente apercebermo-nos que vivemos noutra cidade-que-não-a-nossa...
É encontrarmos um cd que há muito que procuramos e que já tinhamos deixado de procurar...
É apressadamente verificarmos se temos dinheiro para o comprar...
É termos...
É dirigirmo-nos para o balcão para o comprarmos...
É o caixa ser homosexual e fazer-nos o lance mais ranhoso que jálguém nos fez...
É rirmo-nos da situação enquanto estamos a sair da loja...
É vermos o autocarro no virar da esquina... corrermos para a paragem e chegarmos segundos antes do autocarro...

quarta-feira, novembro 23, 2005

Noites em branco...

Noites em que só nos apetece é vomitar e nos deixamos de dormir debruçados sobre a sanita... Acordamos e decidimos mudar o quarto (mas em silêncio para não acordar os outros que estão a dormir...) Quando acabamos olhamos para o relógio e são, só, 4:22 da manha e não nos apetece dormir... Então ficamos acordados a relembrar aquilo que não devemos a pensar naquilo que não podemos...

Onde está o senhor de vermelho?

Dou sangue (se a minha anemia me deixar... e o bolo que acabei de comer me levem a ter mais que 50 Kg) e vou a um concerto. Transportem-me... façam-me pensar em voos mais altos. Que este sangue sirva para salvar vidas e que aquela música me salve a mim...

Deviam haver senhores de vermelho que salvassem pessoas em terra (e não falo do Pai Natal...que esse serve para iludir e a ilusão é como a fast food - alimenta-nos por pouco tempo).

terça-feira, novembro 22, 2005

8:47

Acordar 2 minutos antes do despertador tocar...
Tomar pequeno-almoço...
Sair de casa atrasado...
Rir a bom rir no autocarro...
Olhar para as horas...
Sonhar com o dia que me espera...

[Ficar contente por estar a viver um dia diferente...]

domingo, novembro 20, 2005

This is your life...

...let's do something interesting with it...

»» I think I've been asleep most of my life.
»» Me too.

Elizabethtown::2005

sexta-feira, novembro 18, 2005

Um dia mordi a saudade para salvar o coração.
"Gostava de ser transparente, que o meu corpo não valesse, nem a minha voz, nem nada e só ficasse a minha mensagem. Gostava de um dia criar algo superior a mim... Algo comparável ao Sherlock Holmes que não tem sangue nem voz mas em que acreditamos como se existisse. "

Aldina Duarte:: Fadista

quinta-feira, novembro 17, 2005

Escolho a posição fetal

Deixo-me embalar por sons...músicas lamechas, as tais que falam do amor. Aquelas que se dizem sem conteúdo, pop, anos 80... Aquelas que falam de um sentimento desconhecido que quando é sentido, é da mesma maneira recusado, tal não é a sua estranheza. Deixo-me embalar... Por momentos descodifico palavras em inglês (porque em português falar do amor, é ficar sem graça e corar até mais não) e retenho-as comigo. As tais músicas sem conteúdo, encheram-se de significado e quase esqueço a batida para entrar num sono profundo...

Estou elevada. Em pé num banco de jardim.
Tu estás alguns centímetros abaixo, gosto desta sensação de domínio.

Parece óbvio que se seguirá uma manifestação de carinho, de cumplicidade...
mas susurras (e falar baixinho é quase sempre sinal de que estamos a fazer o que não devemos). Volto à base, escolho a posição fetal (a que me parece sempre mais confortável) e choro. Encaixas-te em mim, como que a proteger-me. Não era protecção que queria, era cumplicidade, era não me teres iludido, era teres acreditado comigo.

Corro.

Em descida a velocidade aumenta e por mim teria saído disparada para o outro lado, mas não. Abrando e escondo-me. Confirmo o medo que sempre tive em dar-me.
Os teus gestos fazem-me sentir culpada, fazem-me sentir ingénua. Levas-me.

Contigo subi colinas, passei túneis.

Depois de te deixar com aqueles que já te conhecem... volto.
Perco-me, entro em locais desconhecidos, não consigo encontrar o caminho de volta. Aquelas colinas desmultiplicaram-se e não vejo pontos de referência, só paredes velhas.

O céu nublado da manhã escondia as pessoas...
Volto a estar sozinha, como sempre estive e agora mais que nunca, com um terrível medo de acreditar.

Acordo.

terça-feira, novembro 15, 2005

Irving Wallace

"As coisas que parecem para ti importantes neste momento, parecê-lo-ão muito menos dentro de poucos anos, quando tiveres de decidir sobre coisas bem mais importantes..."

Irving Wallace
Há dias em que parece que estamos "encurralados" nalgum problema da vida e não conseguimos sair... Mas há outros em que temos a consciência que as coisas não estão assim tão más... Simplesmente estamos imersos no problema e nao temos a/o distância/distanciamento necessária/o para podermos analisar as coisas friamente... Podermos analisar o problema... Detectar o que nos causa este problema para melhor e mais rapidamente poder resolvê-lo...
Há dias assim... Pena é serem tão poucos...

sexta-feira, novembro 11, 2005

no tempo onde habita a minha e tua morada
uma ousadia é imaginar um sonho
e lembro-me de quando os trazias
misturados com os rebuçados de cores vivas
na algibeira dos teus calções gastos
de imensa pertinácia
não quero nunca perder o mais precioso dos dias

Sancha Trindade::criarte.pt

Desabafo..

"Há vezes em que queria ter nascido uma pessoa incapaz de gostar.... Só para ser (in)diferente... Tenho saudades de quando era pequeno e me era lógico que se duas pessoas se gostavam então ficavam juntas para todo o sempre... Ser adulto (e note-se o peso da palavra A-D-U-L-T-O) é uma merda..."


Ps: Desculpa(-me) mas o desabafo tinha que ser mostrado...

Um brinde...

Um brinde a todos os dias tristes porque são mais esses que nos acompanham dos que os dias felizes..

O Amor é fodido III

"Leio de mais. Oiço de mais. Vejo de mais. Estou parado de mais, recebendo mais do que consigo receber."

Miguel Esteves Cardoso - "O Amor é fodido"
Quantas vezes não fomos já bombardeados de informação....? Quantas vezes já não fomos forçados a ter que saber coisas sobre as quais não queríamos...? Sinto que não sou o único... Sei que não posso ser o único... Dizem que o saber não ocupa lugar... Que nunca se tem conhecimento a mais... Muitas vezes gostaria de não saber certas coisas... Acho que veria o mundo d'uma forma mais alegre... Muito menos negra, pesada, triste e cinzenta...

O Amor é fodido II

"Estamos todos perdidos. Mas não faz mal. Porque estamos todos. Só a nossa perdição difere."

Miguel Esteves Cardoso - "O Amor é fodido"

Sem a morte não há religião nem filosofia

A temática da morte presegue-se e isso agrada-me...
não pela temática em si, mas porque (como já disse várias vezes) adoro coincidências. Elas realmente não existem, bem como a morte. As coincidências são incidências que coin. Elas não coin por acaso (esse é outro... a natureza é demasiado perfeita para se dar aos acasos..), elas coin porque sim, porque tudo se reune para isso.

Bem..isto na prática:

A verdade, é que dei comigo a fazer um projecto sobre idosos, a ler páginas da revista Visão onde José Saramago fala do seu novo livro "As Intermitências sobre a Morte" (que também já adquiri), a ler "Imortalidade" de Milan Kundera, a projectar uma encantadora vida em Florença, e a comprar um livro sobre a cidade que inicia da seguinte forma: "Florença sempre foi um destino popular para suicidas."

E mais não digo, porque a mim só me dá para rir.

A temática da morte rodeia-nos, pelo menos, desde que nascemos (e aqui está outro: o nascimento...ai isto dos limites rrrr...).

"sem a morte não há sequer nem religião nem filosofia.
[...] Uma vida sem morte não precisa ser explicada, parece-me claro."

José Saramago

quarta-feira, novembro 09, 2005

E no fim tudo volta ao príncipio

A impossibilidade de continuar a viver, e continuar, continuar, continuar...

Porque mesmo que conseguíssemos fazer uma espécie de pacto de não agressão com a morte, não poderíamos deter o tempo. Então, estaríamos condenados a qualquer coisa pior que a morte: a velhice eterna.


José Saramago::Visão 03.11.05:: a propósito de Intermitências da Morte



[faz-me pensar neste medo constante e nesta luta incessante contra o fim da humanidade (vendo a coisa de um ponto de vista mais amplo, alargado à espécie), quando na realidade esse fim nunca será o problema pois é inevitável (e como gosto deste termo aplicado ao fim, à morte...in-vitável). Teremos que saber sobretudo viver com o durante, com esta "velhice", com a dor. Isto marca, isto vive-se. O fim não existe na realidade, como não existe o zero, o silêncio, os extremos. São apenas pontos de viragem, mitos.]

terça-feira, novembro 08, 2005

Clã - Amigos de Quem...

"Mas teimas em riscar o fim do meu chão
Nunca medes a distância
Dos passos á razão...
Meus votos são claros na forma...
Desejo-te mesmo que o guarde p'ra mim...
E o que não existe não tem fim...

É só dizer e volto a mergulhar
Voltar a ler não é morrer é procurar...
Não vai doer mais do que andar assim a fugir...
Deixa-te entrar para tentar ou destruir..."

Amigos de Quem - Clã (letra: Manel Cruz)

segunda-feira, novembro 07, 2005

F.L.R. - o meu refúgio...

Entro na F.L.R. e tudo o resto fica para trás... Fecho a porta e com ela isolo-me do mundo, esqueço nem que seja por momentos dos problemas que teimam em me perseguir... Acendo a luz vermelha que significa que está ocupada.. Por isso não chateiem... Apago as luzes e fico na completa escuridão... Óptimo.. Só assim é possível trabalhar com negativos por revelar.. Oiço vozes... Vozes que me parecem distantes... Demoro 2-3 minutos.. A experiência ainda não é muita daí a demora.. Por vezes gostava de poder demorar-me horas.. Horas essas em que não seria perturbado.. Horas essas em que não seria "assaltado" por tudo aquilo que me preocupa...

[Por vezes gostava de poder ter este poder de abstracção do mundo real sem que fosse necessário este "isolamento" físico...]

sometimes...i'm so alone

hearts and flowers
a picture of what a love should be
but when it comes
it's deeper than the darkest sea
sometimes i'm so alone
even in your arms
hearts and flowers
like each of us keeps a little wall
inside our hearts
hearts and flowers
those people that make up valentines
forget the flesh and blood of love
like yours and mine
hearts and flowers
a candy coated fantasy
but in your soul i've found the one
my soul can see
sometimes i'm so alone...


:: Lamb :: Hearts and Flowers

sábado, novembro 05, 2005

Closer


Closer

"Larry: She doesn't want to be happy.
Dan: Everybody wants to be happy.
Larry: Depressives don't. They want to be unhappy to confirm they're depressed. If they were happy they couldn't be depressed anymore. They'd have to go out into the world and live. Which can be depressing."

Enfim...

Não (me/te/nos) percebo...

O Amor é fodido

"Claro que tenho o coração ensanguentado. É a única condição que nos faz falar do que nos cerca. É preciso estar muito triste para descrever seja o que fôr."


Miguel Esteves Cardoso - "O Amor é fodido"

sexta-feira, novembro 04, 2005

"We'll fast forward to a few years later
And no one knows except the both of us"

Alanis Morissette, Hand Clean

terça-feira, novembro 01, 2005

Isolar para sempre este tempo

Quando dormes
E te esqueces
O que vês
Tu quem és
Quando eu voltar
O que vais dizer?
Vou sentar no meu lugar

Adeus
Nao afastes os teus olhos dos meus
Isolar para sempre este tempo
É tudo o que tenho para dar

Quando acordas
Porque quem chamas tu?
Vou esperar
Eu vou ficar
Nos teus braços
Eu vou conseguir fixar
O teu ar
A tua surpresa

Adeus
Não afastes os teus olhos dos meus
Eu vou agarrar este tempo
E nunca mais largar

Adeus
Não afastes os teus braços dos meus
Vou ficar para sempre neste tempo
Eu vou, vou conseguir pará-lo
Vou conseguir pará-lo

Vou conseguir

Adeus
Não afastes os teus olhos dos meus
Vou ficar para sempre neste tempo
Eu vou conseguir pará-lo
Eu vou conseguir guardá-lo
Eu vou conseguir ficar...

David Fonseca

what you have is really enough

Beauty is in the strangest places.
A peace of garbage flowting in the wind... it is eveywhere.
You have to develop an eye for it and be able to see it.
Very often, it takes some kind of event to stir up your life, to realize that what you have is really enough.

:: Kevin Spacey ::


[procuro o dia em que consiga ver esta beleza e que sinta que aquilo que tenho é realmente suficiente, pois é-me inerente esta vontade de procurar mais]
Life is so fast and hetic and filled with distraction...
You have to sort of teach yourself to be still and quiet...
and allow yourself to look for what I call beauty.

:: Allan Ball :: a propósito de American Beauty :: 1999